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Postado por : Ricardo quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014



"Seco e sem emoção como um sofisma vazio, não pertencia a lugar nenhum. Nunca a luxúria o atraiu, jamais fora movido pela raiva. O vórtice astral o repelia como uma força complexa demais, um campo com vibrações escuras. A majestática abstração do plano mental também não podia aceitá-lo, pois ele consistia em uma massa de letras mortas, teóricas, que foram remexidas, expelidas e congeladas pelo calafrio resultante de sua total alienação. Ele era literalmente o nihil que habita a terra de ninguém, entre a existência e o estado latente.
Em tempos arcaicos, no auge da civilização mágica, fora um ser humano. Criara uma obra prima, uma teoria aparentemente irrefutável que negava a existência da própria alma. Assim exilou o terceiro olho, a visão espiritual, do mundo dos homens. Para repor este olho, o que enxerga, o homem desenvolveu um cérebro central, que age como os dedos tateantes dos cegos. O homem não podia mais ver a verdade de forma imediata e real. Tinha de apalpá-la, pedacinho por pedacinho por meio da causa e efeito. O homúnculo celebrou seu feito tenebroso com a construção de um castelo, labiríntico e assombrado, onde os corredores conduziam a alma a um caixão, de onde não há ressurreição.
A civilização mágica foi a termo, destruída por cataclismos. Seus habitantes foram viver em planetas com atmosferas mais densas.
Contudo, o homúnculo, que aprisionou tantas almas como pássaros em sua armadilha mental, foi condenado a viver a ficção da morte.
A partir de então, desenvolveu uma monomania que negava a vida e tudo o que fizesse parte dela. Dissecou e esmagou todas a noções de calor, luz, movimento e fé, mas não soube prover a si próprio de nenhum apoio ou refúgio. Ao perseguir esses limites além do concebível, matou seus planos internos, tanto o físico quanto o astral. Pois, se lhe restasse o mais leve traço desses planos inferiores, teria descido ao plano físico mais baixo e se tornado uma rocha. Porém ele perdurava como uma moldura confusa e enferrujada em que o interior fora arrancado. Não tinha fluídos e forças, nenhuma das paixões e sofrimentos de ambos os planos.
Tornara-se assim um marginal a assombrar perpetuamente o portão fechado da ressurreição espiritual. "

O Leão Vermelho: O Elixir da Vida Eterna - Mária Szepes




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SOBRE O AUTOR
Nome: Neo
Página: Intratesta

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