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- Umbandoterapia (parte I)
Postado por : Unknown
sábado, 15 de fevereiro de 2014
Muitas são as formas de enxergar as religiões. Mais especificamente, cada um tem sua forma própria e pessoal de defini-las, independente de que religião seja.
Como sugestão pessoal, que tal enxerga-las como terapia? Uma terapia que nos beneficia não só no campo espiritual como no campo material, até porque o nosso espiritual e material andam de mãos dadas.
Sou Umbandista e como tal gostaria de mostrar até onde a Umbanda, como terapia, nos pode auxiliar. Deixo agora um texto de meu irmão, amigo, mestre e Pai de Santo Heldney Cals.
Depois de lerem este texto seria interessante que cada um dos leitores, olhassem a sua religião como uma terapia em si. Talvez, isso se constitua num excelente exercício.
Homem, conheça-te a si mesmo, para poder conhecer os deusese reconhecer o Deus que habita em ti”.Hipócrates
Quanto se diz que a Umbanda é muito mais do que uma religião, tenho que dar toda razão. Pois a Umbanda fornece um mundo de possibilidades, que muitas vezes passam despercebidas por seus próprios adeptos.
Uma delas é a capacidade terapêutica que a Umbanda possui de forma intrínseca nos seus trabalhos mediúnicos.
Hoje, dentro do segmento espiritualista em geral, muito se valoriza a palavra terapia, mas será que existe uma compreensão real desse termo?
Terapia é um termo oriundo do grego que significa “servir a Deus”, ou “tratar através de Deus”. Ou seja, é um conjunto de processos que visam o alívio ou a cura de determinados problemas através de Mistérios Divinos.
A busca da cura através de Deus, do sagrado sempre existiu e continuará a existir. A prova disso é procura crescente que as terapias com enfoques espiritualistas ou holísticos têm tido nos últimos anos, visto que a nossa ciência clássica nem sempre é possuidora de todas as respostas.
O interessante é observar que mesmo dentro das actuais ferramentas holísticas cada vez mais nos afastamos do conceito de Deus e tentamos “cientificar” os ensinamentos, ou fundamentos das mesmas, tornando-a mais próxima da medicina alopática. Não é que exista nada de errado com o modelo citado, mas sua acção e fundamentação são diferentes dos modelos espiritualistas.
Assim, entendendo que terapia é curar com ou através Deus, encontramos na Umbanda um excelente agregado de métodos e experiencias que tratam os mais variados tipos de problemas.
Na Umbanda temos: Olorum (Deus); Orixás (divindades); Guias espirituais (Mestres de Luz); Conceitos; Doutrina e liturgia religiosa; Magia; Passe energético e espiritual; Alinhamento de chacras; Mediunidade; Desobsessão; Quebra de Magia Negativa; Aconselhamento espiritual; e tantos outros recursos que visam o equilíbrio, o bem-estar, a transformação e desenvolvimento humano, que o leva a processos de cura em vários campos e sectores da vida.
Mas como se processa a terapia na Umbanda?
Por mais que eu venha a dissertar sobre isso, será sempre uma visão parcial e limitada dos inúmeros caminhos terapêuticos que a Umbanda oferece.
Podemos dizer que essa terapia espiritual, magística e religiosa da Umbanda se processa através de métodos e estados diferentes, pois o processo se dá tanto nos assistentes como nos seus médiuns.
Sem querermos estabelecer uma ordem, vamos tentar formata-la da seguinte forma:
1. O consulente, que já cansado de tentar auxílio de várias outras maneiras, procura na Umbanda o “milagre” que transformará sua vida.
Normalmente esse primeiro contacto se dá em busca de soluções quotidianas, das quais os Guias tentam, dentro do possível, auxiliar da melhor maneira possível, aconselhando, realizando passes espirituais e receitando alguma oferenda magística de modo a criar um campo propiciador do objectivo por ele (o Guia) pretendido em função das necessidades do assistido.
Aqui as coisas podem seguir duas vertentes:
a. O consulente sente rápidas melhoras e isso traz uma maior confiança e abertura de sua parte, o que facilita muito a acção de sua cura e transformação interior.
b. O consulente não sente melhoras, ou se recusa a escutar os conselhos dos Guias; aqui também teremos duas variantes:
I. Aquele que não querem melhorar ou aprender, e esperam que os outros e a vida façam tudo que eles querem para se sentirem melhor.
II. E aqueles que querem entender e aprender como podem fazer para se ajudar; claro que esse comportamento está implícito no primeiro caso, o que sentiu as melhoras.
Nesse caso como no primeiro, é normal que o iniciante na Umbanda queira aprender um pouco sobre o novo universo que a ele se apresenta.
Na sua busca de entendimento ele logo se depara com uma das leis de Umbanda que diz: “Quem deve paga. Quem merece recebe!”
Essa lei flui de forma natural a todos nós e a achamos justa, e logo esse consulente quer saber mais, pois interessa a ele também se tornar merecedor ou mais merecedor.
2. Aqui começa a segunda etapa, a do aprendizado, o da instrução e a doutrinação.
Lembro que esse processo dura a vida toda, o tempo todo temos que procurar aprender, conhecer e se melhorar.
Nesse processo o iniciado vai aprendendo, conhecendo, se auto avaliando, se transformando, se melhorando. E a medida que essa transformação, essa melhora acontece, um novo ser começa a surgir, sua maneira de estar com os outros, na vida também se transforma, o que inevitavelmente trará uma nova consequência, situações mais favoráveis, mas também novos desafios.
E a medida que novos desafios surgem ele quer saber mais, quer aprender sobre Deus e seus mistérios e a medida que aprende, vai conhecendo mais sobre ele mesmo e quer mais meios e força para supera-los.
Nesse período o consulente já alterou sua fé, já enxerga Deus, os Orixás, os Guias de uma outra forma, ele já não escuta os Guias unicamente como o aflito que quer ver resolvido seus males, ele escuta como aquele que acredita, que confia, que de todo coração quer crescer, se desenvolver e se tornar uma pessoa melhor. E tudo isso, ele passa muitas vezes sem se aperceber, pois o processo é quase sempre muito subtil.
3. Normalmente aqui começa um terceiro estágio de seu tratamento, de seu desenvolvimento e ele é convidado por um dos Guias da casa a se desenvolver de uma forma mais ativa sua mediunidade; pois até então ele só a desenvolvia através de comunicação com os Guias e com alguns rituais e orações.
4. Aqueles que aceitam, começam a desenvolver sua mediunidade de Umbanda de uma forma mais activa e o processo de cura se torna mais intenso, pois ele vai aprendendo a sentir o sagrado “dentro” dele de uma outra forma. Ele começa a sentir a força dos Guias, dos Orixás e esse sentir já faz por si mesmo uma transformação, já faz uma cura.
Com o tempo, ele começa a prender com seus Guias, pois a medida que seus Guias vão aconselhando, ensinado outros assistentes, vão ensinando a seu médium também. Ele vai aprendendo uma nova forma de ver a vida, pois muitas vezes a visão, ou a acção do Guia é contrária aquilo que ele pensa e acredita. E por confiar no “seu” Guia, ele começa a refletir sobre “suas” próprias verdades.
Com o tempo ele começa, de forma imperceptível a “absorver” as qualidades de seus Guias e Orixás, sua personalidade vai lentamente e naturalmente sendo moldada através do contacto e do serviço ao sagrado que vibra dentro dele.
Uma poderosa reforma íntima começa à acontecer através de sua proximidade estreita com os Guias e com os Orixás
A oportunidade de trabalhar e se desenvolver com diversos Guias, com diversas linhas de actuação dá ao médium de Umbanda um aprendizado impar. Pois além das características individuais de “seus” Guias, ele absorve uma valiosa forma de conhecimento e transformação através dos modelos (arquétipos) sociais que se apresentam nas diversas linhas de trabalho de Umbanda.
Os Guias que atuam na Umbanda se apresentam dentro de uma determina estrutura psíquica social que facilitam o trabalho de cura e transformação levado a cabo por esses missionários da luz.
O médium de Umbanda, agora umbandista, aprende a conhecer, respeitar e amar o diferente: de exu a preto velho, passando por caboclos, baianos, boiadeiros, crianças e etc. Ele vai aprendendo a conviver com o negro, com o branco, com o índio, com o humilde, com o sarcástico, com o doce, com bravo, etc.
Assim os arquétipos sociais e comportamentais trazidos pelos Guias, criam um impacto doutrinário que associado aos mistérios dos Orixás acoplados em cada linha de trabalho e em cada Guia vai moldando a psique do médium, o fazendo manifestar suas qualidades inconscientemente auxiliando em todos os aspectos de sua vida.
E sem se dar conta, motivado pela vontade de ser melhor, de se sentir melhor, de aprender, de crescer o médium vai superando bloqueios, mentais, emocionais, psíquicos, comportamentais e espirituais.
E vai desenvolvendo uma tranquilidade, uma serenidade dentro dele e o vai deixando mais confiante de viver e vivenciar a vida, pois ele sabe e sente que ele e o sagrado são apenas um, que os dois são partes de uma banda.
“Umbandoterapia – A Terapia de Umbanda
Por Heldney Cals
Lancelot
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